Escola e cultura

A Entrevista do matemático português Nuno Crato à revista Veja de cinco de junho (“Contra a demagogia na escola”) aponta as causas da decadência do moderno sistema educacional, que passou a negligenciar o ensino do conteúdo das disciplinas básicas, que fornecem o conhecimento para uma verdadeira formação profissional e cívica. Além disso, em nome de um liberalismo pedagógico prejudicial à aprendizagem, não se exigem mais memorização da matéria ensinada, provas de aproveitamento, disciplina na sala de aula, respeito aos professores e aos colegas de classe, inibindo a distinção entre alunos mais dotados e os menos aplicados. A imposição da não-exclusão criou uma utopia igualitarista que, não estimulando o mérito de alunos e professores, acabou nivelando o ensino por baixo.

Acho plenamente válidas essas críticas ao modelo educacional ultimamente praticado, cujos resultados são deploráveis. Na condição de docente universitário, acabei fazendo a triste constatação de que os alunos do início de minha carreira (quarenta anos atrás) tinham mais preparo daqueles que chegavam às faculdades na época em que me aposentei. E contra o fato não vale argumento!  Só não gostei desta frase do entrevistado: “Para avançarmos, precisamos formar mais e mais engenheiros, médicos e cientistas”. Será que para conhecer nossa realidade podemos prescindir de um bom estudo da linguagem, da história, da filosofia, da religião, das artes? Todas essas disciplinas são fontes de conhecimento, tanto quanto as ciências exatas ou biológicas. O que varia é apenas o meio utilizado: observação e experimentação, fantasia, língua oral ou escrita, imagem fixa ou móvel, pincel, instrumento musical, maquinário de qualquer tipo. Enfim, todo tipo de conhecimento, científico ou humanista, visa o mesmo fim: a busca da verdade existencial.